Realidade das comunidades
Esse ano ano de 2019 tivemos nosso menor índice de crianças e adolescentes assistidos repetentes. Apenas 5%. E ainda levando em consideração que esses repetentes são adolescentes com transtornos de aprendizagens, adquiridos pelas características disfuncionais da família e do território violento em que vivem.
Uma criança que mora na favela precisa ser olhada com individualidade e respeitar cada peculiaridade dos seus sistemas.
Uma criança que mora na favela, que é obrigada a ser acostumada com tiroteios sistêmicos, violência estrutural, doméstica, intrafamiliar, jamais terá o mesmo desenvolvimento pedagógico, emocional e social que uma criança que não mora na favela.
Existem crianças que começam a falar com 3 anos, dado os traumas já vistos e sofridos ainda na 1a infância, existem ainda as que não conseguem se concentrar nas aulas pela tensão da segurança e demasiados confrontos em horário escolar, adquirindo assim transtornos de aprendizagem irreversíveis, somente diagnosticados por médicos e profissionais que a rede pública de saúde não dá suporte. Existem estudos que dizem que um TDAH mau tratado, se transforma num desvio de conduta, o que dá suporte para a entrada precoce nos atos infracionais. Existem ainda crianças que adquirem perda auditiva por otites mau tratadas, por faltar especialistas na pediatria, e assim dificultando sua alfabetização e levando defasagens pedagógicas que acabam com a auto estima da criança, e futura evasão escolar. Existem crianças que repetem de ano porque precisam de óculos. Existem crianças que repetem de ano porque perderam o pai naquele ano. Existem crianças que repetem de ano porque não conseguem acordar porque ficou a madrugada toda ouvindo o pai batendo na mãe.
Essa é a realidade das crianças na favela. Essa é a realidade das nossas crianças assistidas.
Na ONG temos o diagnóstico primário dessas crianças, na entrevista social, e logo são encaminhados aos profissionais que cabem atender aquelas demandas específicas, além das Atividades sócio educativas que trabalham a cidadania, senso crítico, fortalecimento de vínculo, construção de valores e moral, e etc. Além de trimestralmente monitorarmos essas crianças, através de relatórios dos profissionais e serviço social, para entender a evolução das suas demandas iniciais, e identificar outras futuras que possam estar chegando.
Contamos com o time de psicólogos, pedagogos, psicopedagogos, fonoaudiólogos, assistentes sociais e outros diversos. Todos com os olhos atentos para o mínimo sinal de negligência, disfunção social ou pedagógica. Aquele olhar que o Estado precisaria dar suporte para que os equipamentos públicos também pudessem oferecer esse cuidado.
Imagina uma Escola pública com esse suporte? Imagina o posto de saúde com esse suporte? Imagina a polícia militar subindo a comunidade com assistentes sociais e psicólogos para dar esse suporte?
Que potência a favela teria né?
Se nós, grão de areia, tivemos 95% de aprovação com esse suporte… o que seria das nossas crianças se o Estado fizesse seu trabalho?
O que seria do Brasil?
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