Nossa gestora ganhou a medalha Chiquinha Gonzaga
Nossa gestora e fundadora, Stellinha, recebeu a maior honraria de mulheres que trabalham pela causa social feminina, do Município do Rio de Janeiro, a medalha Chiquinha Gonzaga. Como a Câmara de vereadores está fechada, fizemos questão que a entrega fosse feita das mãos da nossa maior inspiração e objeto de trabalho: nossas mães assistidas da Comunidade dos Macacos.
Foi uma cerimônia emocionante, com empatia, respeito, cuidado mútuo e muito amor.
Uma honra poder receber essa homenagem, essa medalha, e por poder contar com tantas mãos a nos guiar, e corações a acreditar!
Stellinha fez uma carta de homenagem às nossas musas, mães assistidas:
Era uma vez, Dona Zuleica: analfabeta, mãe de sete filhos, vivia em situação de pobreza extrema, num relacionamento permeado pela violência doméstica, vítima do marido, usuário de drogas, e álcool, também analfabeto. Viviam de bicos e caridade alheia, ela como diarista, ele como catador. Seus filhos também trabalhavam, ainda crianças, para compor a renda da casa.
Uma vez Dona Zuleica me disse que foi obrigada a criar estratégias para sobreviver, como comprar itens para a casa e para suas obras de infraestrutura, tudo dobrado, pois ela sabia, que 1 item, o companheiro venderia para usar droga. Ou então, pedia aos vizinhos para avisarem quando o mesmo chegasse drogado, para que ela se escondesse debaixo da mesa, ou dormisse na casa dos parentes e vizinhos, para não ser mais espancada.
Ouvi de mulheres, mães que aqui estão:
“EU OLHAVA ELE COMER O FRANGO ASSADO, COM FOME, ESPERANDO ELE TERMINAR PARA VER O QUE SOBRAVA COM OS OSSOS…”
“UM DIA ELE JOGOU UMA PILHA GRANDE NA MINHA CARA, NA FRENTE DAS CRIANÇAS, GRAÇAS A DEUS QUE NÃO PEGOU…”
“EU TIVE QUE PEDIR A MINHA MÃE 1 KG DE ARROZ E FEIJÃO PRA DAR AOS MEUS FILHOS, MAS BATI A PORTA E OUVI MEU PADRASTO ME HUMILHANDO PRA ELA…”
“MINHAS FILHAS FORAM ABUSADAS POR ELE, E EU NÃO PUDE DENUNCIAR, PORQUE SE NÃO ACONTECERIA O PIOR, E ELE É PAI DO MEU SOBRINHO…”
“EU PRECISO TRABALHAR, FAZER CURSO, ME AJUDA A OCUPAR A CABEÇA PORQUE EU NÃO QUERO VOLTAR PRO CRACK…”
“EU NÃO SEI FALAR DE SONHOS NÃO STELLINHA, E POBRE TEM LÁ DIREITO DE SONHAR…”
“EU JÁ NEM TINHA MAIS ESPERANÇA, SEM TER NADA O QUE OFERECER PROS MEUS FILHOS, EU TINHA 10,00 NA BOLSA, FUI NO MERCADO, COMPREI O LEITE DELES, 1 POTE DE CREME, E FUI GANHAR A VIDA NA PROSTITUIÇÃO…”
“EU TENHO CRISE DE ANSIEDADE PORQUE NÃO SEI SE AMANHÃ VAI TER COMIDA PROS 5…”
“QUANDO EU CONTEI PRA MINHA MÃE QUE MEU PADRASTO ME ABUSAVA, ELA DISSE QUE EU ERA A SAFADA, QUE EU O SEDUZIA, MAS EU ERA APENAS UMA CRIANÇA… EU NÃO SEI O QUE É AMOR DE MÃE…”
“EU OUÇO O TEMPO INTEIRO DA MINHA FAMÍLIA QUE EU SÓ SIRVO PRA TER FILHO… COMO POSSO CONFIAR EM MIM, SE EU SEI QUE NÃO PRESTO PRA NADA…”
“EU TIVE QUE ME DEITAR COM AQUELE SENHOR POR MUITO TEMPO SETLLINHA, SE NÃO MEUS FILHOS NÃO COMIAM…”
“EU PERDI 3 IRMÃOS PRO TRÁFICO E A MINHA MÃE, NUM ESPAÇO DE 3 ANOS. MINHA MÃE ERA USUÁRIA DE DROGAS, E ME LEVAVA JUNTO PARA TODAS AS BOCAS DE FUMO, ME ESPANCAVA, E EUFICAVA SEM COMER… HOJE CORRO ATRÁS PORQUE NÃO QUERO QUE MEU FILHO PASSE O QUE EU PASSEI.”
“MEU PAI ABUSOU DE MIM E DAS MINHAS IRMÃS, NUNCA NOS DEIXOU ESTUDAR PORQUE TINHA CIÚMES, HOJE EU TENHO UM TRAUMA DE RETORNAR AOS ESTUDOS, E DE DEIXAR MINHAS FILHAS SAÍREM…”
“É MUITO RUIM SER MULHER…”
Eu estudei a teoria de Vitor Frankl na minha especialização em Direitos Humanos, e ele trabalha com a busca do sentido na vida. Aquele ser humano que mesmo nas piores condições de vida, ele busca um sentido para continuar. O sentido da vida dessas mulheres, por elas , eu conheço, são seus filhos.
Mas quem dá sentido a vida delas, enquanto sujeitas de direito, enquanto mulheres, enquanto seres em construção? Nascem com seus direitos violados, precisam ter jornada dupla ainda na infância, estuda, lava, cozinha, cuida dos irmãos… Como estudar numa casa de cinco pessoas com um cômodo? Como comer quatro, cinco vezes ao dia, sem grana? Vira adolescente e quer estar no meio da sua tribo, quer o cabelo de trança, a unha de acrigel, a sandália da moda, mas a grana é curta, começa com bico de babá, ou namora quem pode ofertar isso a elas… quem tem dinheiro no morro?
Com pouco vínculo com a mãe porque a vida toda ela trabalhou e chegava às dez da noite em casa, não tem quem a oriente, vai no posto, e a injeção contraceptiva está em falta. Engravida, para de estudar, o pai some, depende da mãe, tenta emprego, não tem estudo, vira faxineira, tem mais um filho, a mãe expulsa, entra num relacionamento abusivo por necessidade, apanha, fica, apanha chora, apanha, esperança, apanha, engravida novamente… Quem dá chance às mães?
E aí, vocês conhecem já todas essas falas acima. A sociedade diz ” ELAS PRECISAM TRABALHAR!”
Sem rede de apoio e escolas integrais, as crianças ficam em casa. O poder Público diz “ABANDONO DE INCAPAZ!”
Quem dá chance as mães?
Como dizia Carolina Maria de Jesus em seu livro QUARTO DE DESPEJO: “NÃO DIGAM QUE FUI REBOTALHO, QUE VIVI À MARGEM DA VIDA. DIGAM QUE EU PROCURAVA TRABALHO, MAS SEMPRE FUI PRETERIDA. DIGAM AO POVO BRASILEIRO QUE MEU SONHO ERA SER ESCRITORA, MAS EU NÃO TINHA DINHEIRO PARA PAGAR UMA EDITORA.”
Desigualdade se combate com oportunidade!!! É isso em que eu acredito, é isso que eu prego, e é para isso que eu trabalho! Acredito que quando uma mulher de favela se move, todo o seu entorno se move junto. Quando uma mãe se emancipa, ela carrega seus filhos junto, ela arrasta exemplo e vira referência.
Vivo para que falas como essas sejam cada vez mais escassas, e que elas usem delas, pra dizer, eu venci! Eu fui além, muito além do que me falaram eu poderia ser! Não tenham vergonha das suas histórias, foram elas que fizeram vocês chegarem até aqui. Nenhuma história de superação começa feliz.
Trabalho para que sejam donas das suas decisões, das suas escolhas, dos seus destinos, e protagonistas das suas histórias. Porque mesmo que insistam em nos matar, nos enterrar, sejamos mais fortes, e viremos sementes, pra brotar dia após dia. Porque um dia pode parecer pior, mas o outro dia vêm… E vocês são incríveis!
E parafraseando Belchior e Emicida…
“TENHO SANGRADO BASTANTE, TENHO CHORADO PRA CACHORRO
ANO PASSADO EU MORRI, MAS ESSE ANO EU NÃO MORRO!!!”
Sou feita de sementes de Zuleicas, Janetes, Tatis, Tamires, Ana Kellys, Arianes, Jocilenes, e tantas outras. Sou feita de sororidade e inspiração por vocês! Obrigada por me permitirem a oportunidade de viver com vocês. Amo cada uma!
Stellinha
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